“Mas tal como é santo Aquele que vos chamou sejam vocês santos em toda a vossa maneira de viver, porque Ele próprio disse: Sejam santos, porque Eu Sou santo.” (1 Pedro 1:15-16)
Se tivermos de escolher qual a característica que mais distingue Deus, provavelmente escolhemos a Santidade. Se fizermos uma autoavaliação honesta descobrimos algumas imperfeições em nós. Não estamos a falar de coisas como o cabelo, as borbulhas na cara ou algo que nos desagrada quando nos olhamos ao espelho. Estamos a falar de imperfeições que não se veem por fora, mas que são bens reais no lado de dentro. E reconhecemos com facilidade que fazemos, dizemos ou pensamos coisas que não devemos, que prejudicam os outros e, algumas vezes, mesmo com boa intenção fazemos coisas que em vez de ajudarem, desajudam.
Por outro lado, o Deus da Bíblia (não aquele que imaginamos na nossa mente, criado como nós queremos), é bem diferente de nós! Ele é puro e perfeito de tal maneira, que qualquer mancha, por mais pequena que seja, se nota que não Lhe pertence. Deus é Santo, nós não! E como nós não somos santos (mas podemos ser), a Santidade é uma qualidade que tem de ser vista por contraste, mais do que por comparação, ou seja, temos de olhar para nós, reconhecer as nossas imperfeições e assumir que Deus não tem nenhuma.
Por outro lado, se através da Bíblia vemos que há atitudes da parte de Deus que se assemelham a algumas das nossas, então temos de reconhecer que a imagem e a semelhança de Deus de facto estão em nós. Por exemplo, quando sentimos que algo que se está a passar é injusto e nos revolta, mesmo sem ter nada a ver diretamente connosco, estamos a sentir algo que nos assemelha a Deus, porque Ele também não gosta das injustiças do mundo. Mas, como Deus é perfeito numa área, também o é em todas. Ou seja, se Ele é Santo, também é Justo e Misericordioso e Paciente. Nenhuma das Suas qualidades é melhor nem pior do que as outras.
Também devemos reconhecer que Deus não dá mais importância ao Amor do que à Justiça ou à Santidade. A Santidade faz com que Ele não goste do pecado, a Justiça exige que a transgressão seja punida, o Amor deseja oferecer um relacionamento eterno e a Graça traz a solução para que possamos estar bem com Ele. É maravilhoso pensarmos em Deus e no Seu relacionamento connosco desta maneira; Ele sabe o estado em que nos encontramos, não Se contenta com isso, investe de Si próprio na resolução do nosso problema e acolhe-nos na Sua família, proporcionando-nos a oportunidade de recuperarmos por inteiro as qualidades que nos fazem parecidos com Ele. É isso que vemos na primeira carta de Pedro 1:15,16 “(…) Sejam santos, porque Eu Sou santo”. Por outras palavras, Deus está a fazer-nos um convite: “Sejam parecidos Comigo”. Isto não é apenas uma exigência, mas um desafio porque significa que podemos ser santos.
Quando lemos as cartas do Novo Testamento vemos que os cristãos vivos, eram chamados santos. Ainda não eram perfeitos, viviam num processo de aperfeiçoamento. Afinal é isso que Deus quer! Em primeiro lugar quer que reconheçamos as nossas falhas e isso acontece apenas quando nos comparamos com Ele. A seguir devemos pedir perdão a Deus por todas as falhas que cometemos (mesmo que sejam sem intenção). Em seguida temos de reconhecer que Jesus Cristo, na Cruz, assumiu o lugar da punição que nos pertencia e, finalmente deixamos que Ele nos ajude a ser conforme a Sua vontade.
Quando nos lembramos que a Sua Graça merece a nossa gratidão, entrega e
compromisso, não queremos ficar na mesma. É verdade que Deus olha para nós através de Jesus e nos vê Santos como Ele é. Por outro lado, com facilidade percebemos que ainda há um longo caminho a percorrer, que ainda há muitas impurezas para limpar e muitas arestas por limar. Mas estamos no bom caminho quando aceitamos o convite que Deus faz, caminhamos para nos tornarmos mais parecidos com Ele. A esta corrida chamamos Santificação e só vamos receber a medalha quando Jesus regressar e nos levar para junto Dele.
Miguel Matias
Pastor - AD Sacavém
Originalmente publicado na BSteen em 2012 (adaptado).