Quando se pensa em serviço ou servir, qual a primeira ideia te vem à cabeça? Na ótica humana, quem serve sempre terá menos valor do que quem é servido, e por isso, pode dar uma sensação de inferioridade. Com esta ideia em mente, humanamente falando, o que poderá levar alguém a “lançar-se” na aventura do serviço?
Quando fazemos esta pergunta tendo em conta o mundo atual, especialmente quando se fala em trabalho, o esperado é que se possa receber um salário justo, conforme a profissão ou tarefa que se tem. Neste caso, mesmo que estejas a servir um patrão, no final do dia estás a servir-te a ti mesmo, porque terás o teu salário no fim do mês como recompensa pelo serviço realizado.
No reino de Deus, somos alertados para a compreensão de Quem servimos, ao fazê-lo, compreendemos também a forma de como servir. “(…) O maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. (…) Eu sou como quem serve.” (Lucas 22:26-27, ARA).
Jesus, de uma forma prática e objetiva, faz-nos compreender que na hierarquia humana o mais importante apresenta-se como se estivesse no topo de uma pirâmide, onde todos convergem para o serviço a ele; mas que na hierarquia divina, essa mesma pirâmide apresenta-se invertida. Quem está na ponta inferior da pirâmide é o sustentador de todos os que estão nela. Ou seja, a compreensão objetiva de como “subir” na pirâmide divina faz-nos perceber o fundamento máximo do altruísmo, onde quem tem mais importância é quem mais serve. Deus é o mais importante e apresenta-Se em Jesus como O que mais serve.
Quando pensamos, com este princípio em mente, recordamo-nos da expressão do primo de Jesus (João Batista) “É necessário que ele cresça e que eu diminua.” (João 3:30, NVI), compreendemos então que “o crescer”, a que João Batista se referia, era uma indicação clara de mais e melhor serviço a todos. Assim, aplicando este princípio à nossa vida com Jesus, percebemos que quem detém a maior grandeza no reino de Deus é aquele que mais serve.
Na busca de servir o reino de Deus com propósito, deve haver a compreensão clara de que nada neste reino é valorizado pela obrigatoriedade. A vontade de Deus, espelhada na Bíblia, está repleta de indicações de como devemos chegar-nos a Ele na perspetiva voluntária. Por exemplo, David passou a Salomão, o seu filho, a perspetiva de servir de forma voluntária, pois só dessa forma a dedicação a Deus teria valor “(…) Conhece o Deus de teu pai e serve-o de coração íntegro e alma voluntária (…)” (1 Crónicas 28:9, ARA).
Servir a Deus é muito mais que voluntariado. Apesar do valor intrínseco que pode ter (e tem) o que fazemos para Deus, o ato de o fazer deverá assentar na perspetiva de amar Deus e desejar que Ele e somente Ele seja conhecido e reconhecido. Isso implica conhecer o amor de Deus, tal como David aconselhou ao seu filho Salomão, cada um de nós deverá ter o conhecimento de que Deus, quando serve a Humanidade, fá-lo com amor inequívoco e tremendo. Assim, numa pequena forma de retribuição, o serviço a Deus assenta na integridade do coração de quem O serve. Por isso é muito mais do que voluntariado, é uma forma de vida, é um elo de ligação que nasce de dentro de cada um disposto a revelar a divindade em si e por si.
David indicava ao seu filho que o centro dos sentimentos e das emoções deveria predispor-se a servir a Deus de forma voluntária visto que Deus, a Quem devemos servir, conhece as motivações. “(…) Pois o Senhor (…) conhece a motivação dos pensamentos (…)” (1 Crónicas 28:9, NVI). Assim sendo, o voluntariado, no serviço a Deus, deverá estar arraigado em quem Deus é e nunca nos motivos secundários de termos eventual retribuição ou estatuto, igualmente vazio e oco.
No final deste artigo, gostava de deixar em jeito de conclusão, duas perguntas para refletires, cujas respostas deverão espelhar a compreensão da nossa base de serviço e as nossas motivações: A Quem servimos? Qual o propósito que temos ao servi-Lo?
Ao responder, será bom descobrirmos que servimos a Deus e que o fazemos muito mais do que voluntariamente.
Cândido Carrusca
Pastor - AD Coruche