Fomos criados para viver relacionamentos. Dizemos viver, porque é mais do que “ter” relacionamentos, é suposto experimentarmos na prática aquilo que Deus colocou no íntimo de cada um, especialmente o desafio que é amar, particularmente pessoas imperfeitas.
Ainda que seja mais fácil para uns do que para outros viver relacionamentos, seja pelos traços diferentes de personalidade ou pelas competências sociais de cada um, a verdade é que não fomos feitos para estar sós. Desde o início, do jardim do Éden, que vemos que esse não era o plano. Primeiramente, somos chamados a viver um relacionamento com Deus, o autor de toda a Criação. Mas a mentalidade de “eu e Deus” também não pode sobrepor-se a tudo. Afinal de contas, a família (família em Cristo) é plano de Deus.
Então, é mais do que normal ter sede de relacionamentos e isto acaba por ser ainda mais verdade na altura da adolescência, em que nos conhecemos melhor e estamos a ganhar autonomia nas nossas escolhas. Contudo, cada relacionamento precisa de ser pensado e de ser vivido de forma intencional, sobretudo os relacionamentos amorosos pelo seu potencial... nem que seja desastroso. Mais do que ser conduzido pelas paixonetas cíclicas do Verão, precisamos de pensar bem qual é o nosso propósito, qual é o objetivo e entender que para tudo existe um tempo. Nós também não gostamos muito da última parte, porque envolve esperar e confiar, mesmo quando não entendemos o que se está a passar, e especialmente quando queremos muito, muito chegar a uma determinada etapa. Os dias de hoje não são fáceis! A pressão da comparação nas redes sociais, em que selecionamos apenas os melhores momentos e omitimos a realidade, dificulta o desenvolvimento da nossa paciência e distorce a nossa perceção.
E se fizessem um pequeno exercício? Pensem que as batalhas que enfrentaram há uns anos não têm o mesmo peso no presente e que não morreram com os tempos difíceis. De seguida, pensem mais à frente, tentando fazer crescer a fé e a esperança de que, na espera em (e com!) Deus, as batalhas presentes podem ser vencidas e os frutos que colheremos são bem mais altos e dignos de poder dizer: “valeu a pena!”. Essa é uma das coisas que sentimos em relação ao nosso casamento e tem sido tão bom podermos crescer juntos ao lado de alguém que nos inspira e ajuda a estarmos mais próximos de Deus.
Para estarmos prontos para pensar numa vida a dois, existem alguns pressupostos que queremos que se lembrem. É bom ter esse desejo, mas ele não deve comandar a nossa vida. Caminhar em maturidade é caminhar em direção à autonomia, na medida em que crescemos na forma como ponderamos as nossas escolhas e aceitamos a responsabilidade, independentemente dos seus resultados. E isto é muito mais do que ter a liberdade para escolher ou não o nosso plus one. Para além disso, temos de ser sensíveis à questão do jugo desigual. Sabemos que existem boas histórias de amor em que alguém se converteu a Cristo num relacionamento, mas provavelmente não se contam as dificuldades para se chegar a esse ponto. E para cada história bonita, existem outras mais, que não correram assim tão bem. Não ponhas em causa o teu relacionamento com Deus (o teu primeiro amor) e não te precipites em investir num relacionamento já sobrecarregado de incompatibilidades. Na verdade, o jugo desigual pode acontecer também entre crentes e “crentes”, porque pode ser difícil perceber o nível de compromisso só com base em quem cumpre agenda de igreja. Procura perceber o que move a outra pessoa. Mas mais importante ainda é perceber aquilo que te move a ti. Crescer e ser cada vez mais parecido com Cristo, talvez seja a melhor prenda que possas dar à pessoa com a qual queres passar a tua vida.
Se achas que estas condicionantes são difíceis, pensa na frustração do investimento falhado e do tempo perdido numa relação sem futuro. O teu caminho será melhor e mais proveitoso de percorrer, se ambos estiverem com os olhos postos em Deus com o objetivo de serem mais parecidos com Jesus, dispostos a sacrificar, a escolher amar e prontos a descobrir a novidade de cada dia à medida que mudam e crescem lado a lado. E assim descobrimos que através de Jesus, quem nos une, cumprimos o desafio de amar.
Lúcia e Bernardo Rocha
Médica e Designer
AD Benfica