O que é a Páscoa? A festa judaica da Páscoa. Há Páscoa cristã? Cristo é a nossa Páscoa!
AS FESTAS JUDAICAS
O Deus de Israel determinou para o Seu povo ofertas e festas que serviam de constante lembrete da relação entre ambos. As ofertas e festas mantinham a identidade do povo; as viagens a Jerusalém, os animais para sacrifício, as famílias em peregrinação, os rituais do templo e o louvor coletivo cimentavam a coesão nacional e reflexão sobre o bondoso Deus! Essas festas anuais estavam relacionadas com atividades agrícolas e eventos históricos da nação. Em cada uma, celebravam o que de importante Deus tinha feito no passado, e como os mantivera e mantinha frutíferos e abençoados na sua terra.
Além de servirem de lembrete as festas continham em si um aspecto profético – os conteúdos e experiências destas apontavam para experiências que hoje (também) podem ser vivenciadas e tidas no andar com Deus. Conceitos que hoje se podem extrair das Escrituras Sagradas, como seja: pecado, purificação, perdão, misericórdia e salvação - libertação da condenação do pecado, estavam emblemática e sistematicamente a ser trabalhados nessas experiências festivas. Quanto podemos aprender com o binómio das festas comemorativas: presença de Deus, e libertação e cuidado para com Seu povo.
A FESTA DA PÁSCOA
O motivo histórico dessa festa prendia-se com a libertação que Deus dera a Israel quando este estivera sob escravidão na terra do Egipto. Nela, ano após ano, cada família recordava e celebrava a poupança do filho mais velho de cada família. Poupara como? Pela substituição daquele aquando da “passagem” do anjo destruidor pela terra do Egipto. A obediência ao aviso e às ordens de Deus garantia-lhes que “quando eu vir o sangue passarei, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora” (Êxodo 12:13, ARA) O sangue de um cordeiro nas ombreiras e vergas das portas substituía a morte do primogénito de cada família israelita. A demonstração dessa experiência de amor e justiça divinos era a razão da festa que anualmente celebravam.
Na célebre noite da “passagem por cima” das casas dos israelitas, deveriam estes estar “prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão.” (Êxodo 12:11, NVI) Choro em tantas e tantas habitações dos egípcios; contudo, nas casas do povo de Deus a libertação, a poupança e o início de uma viagem sem retorno. Esperava-os a Terra Prometida! O dia que determinou a libertação e subsistência de Israel “será lembrado através da história de Israel a cada ano.” (Êxodo 12:14, BV) A partir daí, o mês da sua ocorrência tornou-se “o primeiro mês” do ano em Israel. Grande marco!
CRISTO, A NOSSA PÁSCOA
O modelo de um judeu encontra-se na singular pessoa de Cristo, cumpridor da plena vontade de Deus. Celebrou a última Páscoa com os Seus apóstolos, onde assumiu: “Desejei muito comer esta Páscoa convosco antes de começar o meu sofrimento” (Lucas 22:15, destaque do autor) como prenúncio de Sua morte…. e, continua: “Este vinho é o sinal do novo pacto, assinado com o meu sangue, que é derramado em sacrifício por vocês” (Lucas 22:20, destaque do autor) Percebe-se a intenção de na Sua última Páscoa “criar” a Sua primeira Ceia. Os elementos constituintes da festa judaica encontravam agora o “sentido profético” aplicado à nobre Pessoa de Cristo. Ele é a nossa Páscoa!
Diferentes textos no Novo Testamento indicam a relação que essa aplicação tem connosco, cristãos. Se na última Páscoa que Jesus tomou Ele apontou para a Sua morte, será de valia perceber que outros elementos ou atos do ritual pascal têm valor e aplicação agora.
No âmbito de uma repreensão ao modo de vida de um homem e uma mulher da igreja em Corinto, o apóstolo Paulo “viaja” até à Páscoa judaica para “trazer” à igreja a responsabilidade de jogar “fora o velho fermento do pecado para ficarem completamente puros… Porque a nossa Festa da Páscoa está pronta, agora que Cristo, o nosso Cordeiro da Páscoa, já foi oferecido em sacrifício.” (1 Coríntios 5:7, NTLH) A festa está pronta! Já temos o Cordeiro, e agora “participemos nessa festa espiritual com o pão puro da sinceridade e da verdade” (1 Coríntios 5:8) Que temos? Salvação, libertação da condenação dos pecados pelo sangue do Salvador. Que faremos? Vivamos em sinceridade e verdade. Essa sim, é a “Páscoa cristã”! Viver uma vida digna, moldada pelo valor do “precioso sangue de Cristo, o cordeiro de Deus, sem pecado e sem mancha” (1 Pedro 1:19).
Mas como celebrá-la? Qual o ritual ou praxis a seguir? Vejamos as ordens do “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João 1:29, ARC): “Tomai, comei (…) Bebei dele todos.” (Mateus 26:26-27, ARC) Que a gratidão expressiva dos israelitas seja imitada por nós (que maior razão temos!), a cada tomada da Ceia. Lembra e louva!
Carlos Fontes
Diretor Académico MEIBAD