“As iludências aparudem”

 

Cada vez que visito um shopping e vejo aqueles manequins nas montras pergunto-me: Como é que é possível alguém vestir um tamanho tão pequeno? 

Depois, na TV, vejo aqueles anúncios light e fico a pensar que tenho de fazer dieta urgentemente. As pessoas mais fortes (para não dizer “gordinhas”) que aparecem nos anúncios, ou são gozadas por alguém, ou de alguma forma “dão barraca” e vestem mal…


É preciso estar sempre a par das novidades para ser aceite! Roupa e calçado de marca são obrigatórios, bem como perfumes, relógios, malas, telemóveis, enfim…E depois o ginásio, para ter um corpo com medidas certas. Ah, e não se pode esquecer o corte de cabelo e a sua cor! A lista de exigências é enorme, mas é bem real…


Infelizmente, há pessoal que não conseguindo ter financiamento para sustentar as modas, recorre a coisas muito prejudiciais para a sua vida, a sua mente e o seu corpo…vivem vidas duplas e no fundo estão sempre insatisfeitos. SÃO VÍTIMAS DA MODA e inconscientemente nem reparam que tudo isto é nada mais que comércio louco e desenfreado para conquistar as bolsas da clientela. Provocam na mente a ideia de que andando sempre na moda as pessoas vão ter estilo, vão arrebatar corações, vão dar nas vistas, vão ter sucesso. Cá para mim vão é gastar “pipas de massa” …


O pessoal faz da aparência exterior algo exageradamente importante. De facto, ela é importante, mas não pode sobrepor-se ao nosso interior e à nossa personalidade e muitas vezes é isso que acontece. Escravizamos” os nossos sentimentos, os nossos ideais, os nossos valores pelo que nos incutem através de todo o comércio e toda a forma de publicidade só para estar na moda! É óbvio que ninguém quer sentir-se desenquadrado e ser notado por ser diferente e a moda brinca muito com esse sentimento pretendendo que sejamos todos iguais, lindos, perfeitos, com aquelas medidas…e com aquelas etiquetas.


É como ter uma caixa lindíssima que lá dentro só tem farrapos velhos e sujos. Que adianta que ela seja bonita por fora se por dentro está numa miséria? Às vezes as pessoas ficam em farrapos porque só pensam em embelezar o exterior da caixa. Gastam dinheiro a mais com isso, querem aparentar o que não são, tentam mostrar força e são fracas, tentam mostrar que se aceitam e mesmo assim não o conseguem. Tentam mostrar alegria, mas vivem cheias de tristeza, tentam mostrar ter uma boa autoestima, mas choram ao espelho… porque pensam que o exterior da caixa é o mais importante, mas não é!


O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração.” (1 Samuel 16:7) 


Deus criou-nos diferentes uns dos outros, deu-nos personalidades próprias para vivermos com elas e não para as apagarmos com uma marca registada. Somos únicos para Deus e deveríamos ser criativos adequando a nossa indumentária à nossa personalidade, mas fazendo-o de modo natural sem seguir o frenesim do consumismo, sem exageros… 


Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? (…)  Porque as gentes do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que haveis mister delas. Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Lucas 12:27-28, 30-31, ARC)


Miriam Vicente

Casa do Pai - AD Santarém


Texto originalmente publicado na rubrica BSteen, revista Boa Semente, 2004. Adaptado.