O que significa ser filho de Deus?

 

BASE DA NOSSA IDENTIDADE


Gostas de coisas radicais? Normalmente, quando somos jovens, ser radical é algo comum. Uns são radicais em desportos, outros em discursos, outros em lutas sociais, outros em dietas malucas, enfim há radicalidade para todos os gostos.


 Apesar de sempre olhar para isso com admiração sempre pensava: “Quem me dera ser tão radical como o fulano”, mas a verdade é que nunca fui muito radical. Até que um dia Deus me apresentou a forma de vida mais radical que pode existir: ser filha de Deus.


Ok, eu sei que não parece assim tão radical, não é nada novo, nem soa assim tão estranho. Mas espera lá, pensa comigo: Deus chama-te de filho(a) amado(a), isso não é muito doido? Bem, talvez ainda não tenha conseguido convencer-te, então vem comigo!


Sermos chamados de filhos de Deus tornou-se tão familiar que nos torna muitas vezes ignorantes quanto ao poder que há nessa nova identidade e à radicalidade de vida a que somos chamados a viver. 


É verdade que nem todos têm facilidade de olhar para Deus como um Pai, um bom Pai. Uns por causa de circunstâncias dolorosas não puderam desfrutar de um bom relacionamento com o seu pai e isso contribuiu para uma compreensão distorcida do relacionamento entre pai e filho. É comum transportarmos essa imagem distorcida para Deus. Quando a definição de pai se torna algo que causa dor e ressentimento, como chamar Deus de Pai? Mas a verdade é que Deus é o nosso Bom Pai. O Pai Perfeito. Talvez o Pai com o qual nunca tiveste o prazer de desfrutar um bom relacionamento. Embora uns com mais dificuldade ou outros com menos dificuldade é fundamental resgatarmos esta verdade para o nosso relacionamento com Deus. Ao longo da minha vida aquilo em que talvez eu vejo Deus a investir mais tempo comigo é a levar-me a experimentar esta realidade: conhecer a Deus como o Bom Pai. 


Muitas vezes servimos na igreja e olhamos para Deus apenas como o Senhor que requer de nós obediência e então é fácil passarmos de filhos amados a apenas servos. O que é mais comum tu ouvires? Sou servo de Deus ou sou filho de Deus? E sabes porquê? Temos uma certa tendência a medir o amor de Deus por nós por aquilo que fazemos. Então quando nos “portamos” bem achamos que Deus nos ama mais. Mas Deus não nos ama por causa do nosso desempenho ou produtividade. Até porque para Ele o que nós fazemos estará sempre mal feito e a maior parte das vezes nem fazemos o que Ele nos pede. Continuamos a ser os seus filhos amados apesar de... Ele continuará a corrigir-nos e a moldar-nos a fim de nos tornar semelhantes ao seu filho perfeito: Jesus. 


Por isso quando oramos ao Pai não temos medo de ser “despedidos”, “ser lançados fora”. Jesus disse: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (João 6:37 ARA). Não somos lançados fora por causa do nosso desempenho imperfeito, pois não somos apenas servos, mas filhos amados que o Pai corrige, aperfeiçoa e encoraja. Nesse sentido podemos orar com ousadia: “Pai nosso...”, sabendo que não deixámos de ser filhos, não deixámos de ser amados.


A oração é o meio pelo qual Deus nos traz constantemente para esta realidade. Por isso ela deve começar a lembrar-nos daquilo que tendemos a esquecer: “Deus é o nosso Pai”. Antes de proferirmos qualquer palavra em oração, deveríamos de nos lembrar disto: Deus é o meu bom Pai. Esta verdade é transformadora, ela dá-nos serenidade no meio dos momentos mais malucos que possamos estar a viver, se Deus é o nosso Pai o que mais importa? Ele cuida de nós, Ele ouve-nos quando clamamos. 


Jesus abriu um caminho para nós de uma intimidade com Deus nunca vista, mas também é importante lembrar que este novo relacionamento com Deus não serve para conseguirmos retirar de Deus o que nós queremos, pois se por um lado somos filhos, por outro também somos seus servos. É preciso ter a intimidade suficiente para chamá-lo de Pai, mas ao mesmo tempo é necessária a submissão para aceitar que a vontade Dele, seja feita. Na verdade, é na intimidade que encontramos a submissão. Só aqueles que realmente conhecem o Pai conseguem se submeter a Ele. Quando não o conhecemos, manipulamos para que seja feita a nossa vontade. 


Precisamos de conhecer o nosso Pai, saber que Ele é Bom e Santo. 

A vida radical com Deus está em termos intimidade com Deus como filhos ao mesmo tempo que somos submissos como servos. 


Sara Rosa

Missionária da AMAD

Ilha do Sal (Cabo Verde)